O assunto central deste artigo é fazermos algumas considerações sobre o combate químico de escorpiões.

Vamos entender que o combate aos escorpiões faz parte de um programa de gerenciamento ambiental onde o uso de inseticidas faz parte, mas não deve ser encarado como única solução.

É fundamental consideramos o manejo deste ambiente como não ter material entulhado, não deixar as cobertas da cama em contato com o solo, não deixar roupas penduradas na parede, vedar caixa de gordura e ralos, não deixar mato crescer junto a muros, olhar dentro de calçados e roupas antes de usar, não acumular folhas secas, não deixar água acumulada, remover folhagens, arbustos e trepadeiras junto às paredes externas e muros, vedar soleiras de portas com rolos de areia ou rodos de borracha, reparar rodapés e assoalho soltos e colocar telas nas janelas.

 

O que será abordado sobre escorpiões nesse artigo?

 

Neste artigo vamos abordar a questão do combate químico que tem causado uma série de informações desconexas e pretendo trazer algumas informações na tentativa de ajudar a esclarecer este assunto.

Entretanto, antes de falarmos no combate químico precisamos conhecer algumas características da biologia deste artrópode, de sua anatomia e seu comportamento,

Os escorpiões pertencem ao grupo dos artrópodes que significa patas articuladas, mas não apenas as patas, mas todo o corpo como os escorpiões.

 

Morfologia e anatomia dos escorpiões

 

Os artrópodes não apresentam esqueleto interno, mas sim externo com a esclerotização de sua epiderme como mecanismo de proteção contra atrito, patógenos, predadores, variações ambientais, desidratação. Além disso, dá suporte estrutural e forma ao corpo do animal.

Esta carapaça quitinosa é formada por quitina constituindo uma malha rígida na maioria do corpo e uma malha mais fina e delicada nas articulações.

As placas abdominais têm o dorso (tergito) e ventral (esternito) quitinizadas e as laterais membranosas para permitir a distensão do exoesqueleto.

O exoesqueleto dos artrópodes é formado por uma epicutícula e uma pró-cutícula composta por uma exocutícula externa e uma endocutícula interna. A epicutícula é formada por proteínas e cera, enquanto a pró-cutícula é rica em quitina.

Entretanto este exoesqueleto representa um grave problema quando o assunto é crescimento, por isso, ele é eliminado periodicamente para permitir que o corpo do animal cresça.

Para que ocorra a muda, o animal começa a produzir precursores enzimáticos inativos na base do esqueleto. A epiderme solta-se do esqueleto e começa a produção de uma nova epicutícula. As enzimas inativas são ativadas e começam a digerir a endocutícula. A epiderme produz uma nova pró-cutícula, que fica sob a velha. Percebe-se, então, que o artrópode está preso dentro de dois exoesqueletos, o antigo e o que está se formando.

O esqueleto antigo começa a se romper em pontos específicos e predeterminados denominados de linhas de fratura ou linhas de ecdise. O animal sai de seu antigo esqueleto, já envolvido pelo novo, entretanto, este é mole, o que deixa o animal desprotegido.

Estas ecdises acontecem periodicamente até atingirem a maturidade sexual quando param de crescer e consequentemente de realizarem mudas.

Quando jovens a ecdise dura duas horas no dorso da mãe. Após a primeira ecdise eles abandonam o dorso da mãe e passam a ter vida própria. Isto acontece ao redor de 14 dias após o nascimento.

Atingem a maturidade sexual com 1 ano após fazerem cinco mudas.

Respiram por meio de filotraquéias, pulmões foliares, como páginas de um livro. As lâminas deste órgão, localizado na parte inferior do abdome (ou opistossoma), encontram-se cheias de hemolinfa que, em contacto com o ar, permitem a troca de gases, se abrindo ao exterior através de orifícios chamados de espiráculos.

 

Como o escorpião se comporta no ambiente?

 

Vamos conhecer alguns aspectos comportamentais que são importantes no combate químico.

São animais carnívoros e de hábitos noturnos, alimentando-se de baratas, cupins, moscas, aranhas e na falta de alimento fazem canibalismo.

Em teste com T. serrulatus com 110 horas de observação, observou-se que durante o experimento passaram:

  • 16,47 horas do tempo explorando o ambiente
  • 4,58 horas do tempo foi exploração com paradas
  • 4,22 horas se limpando
  • 79,22 horas imóveis
  • 3,17 horas forrageando
  • 4,71 horas se hidratando

Usam seu veneno normalmente para imobilizar a presa, mas também serve para pré digerir os órgãos internos e vísceras do animal. Em seguida, usam suas quelíceras (pequeno par de “presas” na parte frontal do prossoma) para dilacerar sua comida enquanto os sucos digestivos do intestino são regurgitados para fazer uma digestão externa, que então é sugada sob a forma líquida.

Qualquer matéria sólida indigestível (pelo, exoesqueleto, etc.) é preso por cerdas na cavidade pré-oral, o que é ejetado pelo escorpião. Ou seja, assim como as aranhas, eles não conseguem ingerir material sólido.

Durante o tempo em que ficam parados eles estão em contato direto com o solo e fazem isto por várias razões:

  • Tipo de tática de caça principal que é o “senta e espera” (catalepsia de até 6 horas)
  • Limpando o pecten e pelos do corpo (tricobótrias) com função sensorial (localizar presas).
  • Passar o telson nas quelíceras: esfregar o telson entre as quelíceras, limpando-o.
  • Limpar-se com o segundo par de pernas: friccionar o segundo par de pernas na parte anteroventral e lateral de seu corpo.
  • Durante deslocamento o pecten está sempre em contato com o solo
  • Quando em repouso o metassoma está enrolado e deitado ao lado do corpo e pernas recolhidas próximo ao corpo
  • Quando se alimentando e aos filhotes

 

Legislação vigente

 

O combate químico é feito com inseticidas registrados na ANVISA para esta finalidade.

Resolução DC/ANVISA nº 59 de 17/12/2010

Art. 5º A notificação e o registro dos produtos saneantes são efetuados levando-se em conta a avaliação e o gerenciamento do risco, finalidade, categoria e devem atender regulamentos específicos.

Art. 6º Na avaliação e gerenciamento do risco são considerados:

I – toxicidade das substâncias e suas concentrações no produto;

II – finalidade de uso dos produtos;

III – condições de uso;

IV – ocorrência de eventos adversos ou queixas técnicas anteriores;

V – população provavelmente exposta;

VI – frequência de exposição e a sua duração; e

VII – formas de apresentação.

Resolução RDC nº 326, de 09 de novembro de 2005

D.8 – Por ocasião da solicitação do registro de produtos desinfestantes domissanitários devem ser apresentados os testes de eficácia sobre as pragas indicadas no painel principal do rótulo. Para comprovação da ação sobre outras pragas indicadas no painel secundário devem ser apresentados testes de eficácia ou literatura sobre a ação dos ativos nas concentrações propostas.

Os relatórios referentes aos testes de eficácia deverão incluir dados sobre a aplicação dos produtos, simulando as condições de uso com a utilização das pragas contra as quais se destinam, utilizando preferencialmente protocolos de Organizações Internacionais.

D.8.1 – Os testes de eficácia, acima referidos, poderão ser realizados em laboratórios nacionais ou internacionais, oficiais ou privados, desde que sigam as práticas de laboratório adequadas.

O que significa que os inseticidas usados para combate aos escorpiões, registrados na ANVISA já foram testados e comprovada sua eficácia através dos testes exigidos pelo órgão fiscalizador e registrador do Ministério da Saúde usando protocolos de Organizações Internacionais.

Compreendendo os produtos e as ações para combater os escorpiões

Bom, agora podemos analisar o processo como um todo.

Primeiro todos os produtos registrados para combater escorpiões já foram testados e comprovados quanto à sua eficácia contra escorpiões.

Analisando 10 produtos registrados (Demand, Temimax Lambda 10.6, Tenopa, ScorpMax, Ficam, Solfac, Temprid, Dipil, Bifentol e Deltek) nenhum deles é Concentrado Emulsionável todos são Pó Molhável, Suspensão Concentrada ou Micro Encapsulado e seriam usados na pulverização residual.

E há uma razão para isto, é que a formulação Concentrado Emulsionável é muito desalojante e isto é o que não queremos. Queremos é que a formulação permaneça no ambiente e que os escorpiões não pressintam sua presença e assim se contaminem principalmente quando estão parados.

Cabe lembrar que testes feitos com T. serrulatus com 110 horas de observação, observou-se que durante o experimento passaram 79,22 horas imóveis, ou seja, em contato direto com o solo.

Inseticidas usados na formulação pó molhável, suspensão concentrada ou microencapsulado tem a vantagem de permanecerem aderidos ao corpo do escorpião liberando lentamente seu ativo que penetrará pelas partes não esclerotizadas podendo ainda ser ingerido no ato de limpeza.

Assim insetos que também estiverem contaminados com estas formulações, mas ainda vivos, ajudarão na intoxicação dos escorpiões uma vez que os escorpiões só comem insetos vivos.

Vamos nos lembrar que eles passam 3,17 horas das 110 horas de observação se alimentando e 4,22 horas se limpando o que acabam ingerindo a formulação aderida ao corpo.

Na categoria limpeza, foram observados os mesmos atos comportamentais (passar pinça nas quelíceras, passar télson nas quelíceras e limpar-se com o segundo par de pernas), relacionando o último ato comportamental com a limpeza de pectenes, essencial aos escorpiões.

Ou seja, se o animal estiver contaminado com as formulações ao se limpar ele vai ingerir o inseticida o que ocasionará sua morte.

 

Resumão sobre o assunto

 

As formulações mais adequadas a serem usadas neste projeto são Suspensão Concentrada, Pó Molhável e Microencapsulado, isto por terem pouca percepção ambiental e maior poder residual.

Neste sentido o que tem maior residualidade é o Microencapsulado, seguido pelo Pó Molhável e o de menor a Suspensão Concentrada.

No combate usando inseticida na forma de residual quando o escorpião se contamina?

  • Quando está parado com seu corpo encostado no solo
  • Realizando a limpeza do corpo
  • Durante as 5 mudas que realiza após abandonar o dorso da mãe período em que seu corpo não está revestido de quitina, este processo pode durar poucas horas até que a quitina se torne endurecida em contato com o ar
  • Ao comer insetos ainda vivos, mas contaminados com inseticidas nestas formulações
  • Entrada do inseticida pelas partes não quitinizadas após a formulação ficar aderida ao seu corpo

Uma outra forma de se realizar o combate químico é com aplicação espacial. Neste caso temos as opções de termonebulização, UBV e atomização.

Esta técnica de desinsetização leva em conta a entrada do inseticida pelo sistema respiratório, especificamente os estigmas ou espiráculos.

Esta técnica chamada de espacial tem por finalidade não deixar residual, mas atuar nos insetos através de inalação destas através dos espiráculos e isto ocorre mesmo tendo fechado os espiráculos pois leva um tempo para isto acontecer.

Na técnica de UBV e atomização podemos usar as mesmas formulações ditas acima uma vez que estamos falando de moléculas na ordem de 5 µm (PM), 12 µm (ME) e 9 µm (SC).

Isto porque nos equipamentos de UBV eles quebram a calda em gotas de 25 a 50 µm e nos atomizadores 50 a 100 µm, o que significa que se usarmos as formulações acima designadas com o respectivo tamanho de suas partículas com o ativo serão muito menores do que o tamanho de gotas geradas por estes equipamentos.

Já no fog teríamos que usar uma formulação concentrado emulsionável o que não seria problema porque aqui a ideia não é ficar no solo o que causaria dispersão, mas sim, entrar pelos espiráculos e isto é muito rápido.

A pulverização espacial seria muito eficaz nos filhotes que fizeram a muda e nos adultos que estão fazendo ecdise porque é um momento em que ainda não tem a quitina formada e com isto acabam absorvendo o inseticida através do tegumento ainda não quitinizado.

Fonte: https://www.pragaseeventos.com.br/

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